Brasil Abaixo de Zero - Trecho 4

Hélio diz que o grupo com que faz sucesso de modo unânime são as crianças.
Crianças não têm preconceitos, não tanto quanto os adultos.
Célia Bastos, professora universitária nascida com uma anomalia genética chamada osteogenesis imperfecta, possui uma página na Internet onde relata suas experiências com crianças, que falham – ou melhor, acertam – em não vê-la como uma deficiente física e depois uma pessoa, mas como um indivíduo antes de qualquer outra diferenciação ou pré-julgamento.
Célia conta, por exemplo, um passeio com o sobrinho, em que ele, curando-se de uma catapora que o deixou todo “pintadinho”, achou que todos estavam olhando para suas “cataporas”, e não para a tia de 122 centímetros, óculos “fundo de garrafa”, aparelho de surdez e bengala para auxiliar suas pernas tortas, e sim para ele, o menino de oito anos, “loirinho, fisicamente normal”. Bernard, em sua inocência – e esperteza - nem imaginava que o alvo da curiosidade alheia era a “super tia”, que nem sonhava ser “uma deficiente”.
Quando Hélio treina, embora muitas vezes ouça comentários pouco educados, sempre tem a admiração dos “guris”.
“Eles sempre vem me perguntar o que é isso que eu estou fazendo, como é que eu resolvi esquiar, e falam coisas positivas, tipo ‘que legal’, ‘quero fazer isso também’.”
Hélio diz ainda que a admiração das crianças independe de classe social:
“Outro dia tinha um guri pedindo dinheiro na sinaleira e ele veio falar comigo quando me viu botar os esquis e começar o treino. Expliquei que estava esquiando, que não tinha como treinar na neve, e precisava esquiar na grama mesmo. Ele achou o máximo. Quando a sinaleira abria, ele vinha de novo perguntar alguma coisa, ou só ficar assistindo.”





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