Brasil Abaixo de Zero - Trecho 3

Dedicado, até mais do que no período em que treinou para triatlos e maratonas, justamente por saber de suas deficiências, Hélio procura aproveitar ao máximo seus dias na neve. Normalmente é um dos últimos a deixar as pistas, saindo apenas quando estas fecham.
Em uma ocasião, foi alertado por um atleta norte americano:
“Nunca vá esquiar em Oslo, seria muito perigoso para você!”
A explicação veio logo em seguida:
“Em Oslo, algumas das pistas são iluminadas durante toda a noite. Lá você certamente iria esquiar e esquiar sem parar, sem se alimentar e sem dormir, no fim das contas, iria esquiar até morrer!”
Em 2003, na sua segunda viagem para treino na neve, Hélio viu-se completamente só na imensidão branca, decidindo retornar para o hotel após um dia exaustivo.
Demoraria um pouco além do desejado. Por mais que tentasse, não conseguia tirar as botas dos esquis, e não havia ninguém à vista.
Sentiu-se, mais uma vez, um peixe fora da água, um outsider.
Hoje vê com bons olhos o acontecido, como nos rimos de coisas que, quando aconteceram, pareceram até trágicas. Mas, naquele dia, queria desaparecer na poeira – ou na neve.
Pensava: “Eu achando que posso aprender a esquiar, que posso até competir. Nem tirar os esquis eu sou capaz de fazer!”
Tentou durante um bom tempo, em vão.
Precisava devolver o equipamento, que era alugado.
Não tinha alternativa: teria que voltar à loja de locação de qualquer modo, mesmo que fosse andando sobre os esquis.
O caminho lhe pareceu mais longo do que qualquer maratona.
Quando se aproximou da loja de locação, o encarregado ficou enfurecido ao ver Hélio ainda calçando os esquis.
Obviamente, um equipamento tão caro desenhado para o uso na neve não deveria ser usado para caminhadas em pistas de piche.
Hélio se defendeu “O que eu iria fazer? Não conseguia soltar o esqui, precisava devolvê-lo. E precisava voltar para o hotel também, iria ficar na pista a noite toda?”
Sentiu-se menos pior ao constatarem que o esqui, de fato, estava emperrado.
O próprio funcionário teve dificuldades ao soltá-lo, embora, em momento algum, tenha reconhecido isso, não voltando atrás em seu acesso de fúria.
Depois de várias tentativas, o esqui cedeu, finalmente descolando da bota.
Hélio respirou aliviado.





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