Brasil Abaixo de Zero - Trecho 2

A maior parte das matérias publicadas sobre Hélio tiveram um enfoque positivo, mas não houve unanimidade.
Hélio se sentiu um pouco desvalorizado quando um repórter da Estônia igualou sua participação no Campeonato Mundial à de Eric Moussambani, que representou a Guiné Equatorial nos Jogos Olímpicos de Sidney em 2000. O nadador, oito meses após ter sido apresentado a uma piscina, foi alçado ao status de estrela ao final de uma prova de 100 metros, terminada com muito custo.
"É verdade que ele não tinha uma boa piscina para treinar, assim como eu não tenho neve no Brasil. Mas não cabe a comparação com relação àquilo que cada um de nós realizou no esporte. Posso estar entre os últimos colocados em competições de alto nível, mas há doze anos que treino modalidades que exigem resistência física, e me dediquei ao cross country por um período bem maior do que os oito meses em que ele treinou para as Olimpíadas de 2000. Sem querer parecer presunçoso, não dá para comparar o nível de exigência de se nadar 100 metros com o que eu faço no esqui".
As Olimpíadas pretendem unir os povos de todos os continentes, o que é demonstrado pelos cinco anéis entrelaçados que compõem o Símbolo Olímpico.
Hélio, no entanto, acredita que o atleta olímpico, além de ser o melhor em seu país, deve ter uma história de compromisso com o esporte:
"Acho que a união proporcionada pelos Jogos teria um valor ainda maior se todos os continentes, inclusive a África, pudessem enviar para as Olimpíadas atletas que tenham tido a oportunidade de se dedicar e buscar alcançar o melhor nível dentro de suas possibilidades."
O economista queniano James Shikwati concordaria. Em entrevista recente à revista Veja, declarou:
"Se você der dinheiro a um mendigo e voltar a vê-lo na rua no dia seguinte, não se pode dizer que você o tenha ajudado. Ele continua mendigando. É isso que está acontecendo na África. Os países ricos anunciam mais e mais doações a cada ano. Temos de parar com isso. É preciso tirar o mendigo da rua. Temos de descobrir os potenciais desse mendigo, pois isso sim poderá melhorar sua vida. A África necessita é de uma chance para ser capaz de administrar e comercializar as próprias riquezas".
Sobre a oportunidade de participar de grandes eventos como o Campeonato Mundial e as Olimpíadas, mesmo não estando entre os melhores do mundo, Hélio afirma:
"Não gostaria de receber destaque apenas por ser uma coisa curiosa, mas porque posso servir de inspiração para aqueles que acreditam que suas limitações pessoais e os obstáculos que encontram pela frente lhes fecham as portas, quando não deveriam desanimar e muito menos desistir. E isso não apenas no esporte, mas de modo geral, em tudo na vida."
Seja com a busca pela excelência no esporte ou em qualquer coisa que seja, os Jogos Olímpicos servem de inspiração para muitos.
Entretanto, aqueles seres formidáveis que a maioria vê apenas na telinha parecem muito distantes de nós. Nós, atletas ou não atletas, estamos em um patamar diferente dos medalhistas olímpicos, semideuses que apenas contemplamos.
O fato de alguém “mais como nós”, gente como a gente, não tão longe da terra, ser capaz de sonhar com algo tão fantasmagórico como esquiar vivendo em um país onde não há neve, e buscar tornar o sonho palpável treinando no asfalto e na grama, faz com que tenhamos um estímulo a mais para correr atrás de coisas que parecem, de repente, ser menos complicadas do que antes.





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?